Criatividade, o que você acha sobre
isso?
Autor: Eng. Marco Antonio Garcia Jorge
O tema criatividade merece grande
atenção por parte de acadêmicos, profissionais, estudantes, enfim, por toda a
sociedade. A criatividade é intrinsicamente humana, dependente da cognição e se
desenvolve em contextos variados, que dificultam os pesquisadores determinarem
regras específicas sobre seu processo de formação e expansão. A cognição é o
ato ou processo de conhecer, que envolve atenção, percepção, memória,
raciocínio, juízo de valor, imaginação, pensamento e linguagem, cuja origem
refere-se normalmente a Platão e Aristóteles.
Outra questão que dificulta o
entendimento de pesquisadores é que a criatividade é infinita. Enquanto houver
pessoas, haverá espaço para criatividade. Enquanto houver sociabilização,
haverá espaços criativos. A criatividade tem um significado tão vasto e
aplica-se a tantas áreas que uma forma específica de perceber esse constructo
se torna redutora do seu valor. Outros termos que se relacionam com a
criatividade são: imaginação, motivação, coragem, valor, saber, originalidade, inovar,
talento, criar algo novo, etc.
Para os acadêmicos, todo ser
humano possui criatividade, em diferentes níveis de habilidades. Para uns, é
possível desenvolver o que chamam de potencial criativo, outros criaram uma
taxonomia para classificar criatividade segundo o lugar de origem e a forma
como se manifesta. Porém, nem sempre foi assim: na antiguidade, a criatividade
era vista como dom divino, um "estado místico de receptividade de alguma
mensagem de entidades divinas."
Esse texto inicia com as definições
para o constructo criatividade, apresenta as classificações mais comuns sobre o
tema e exemplifica alguns campos de ação. A seguir, aborda a física da
criatividade, uma alusão aos conceitos de força e potencial dos ensinamentos de
física e complementa com o processo criativo. Ao final, tece as conclusões do
autor.
Criatividade: definições
Algumas definições dos autores
para o constructo criatividade, desenvolvidos nas últimas seis décadas:
"Criatividade é o processo
de mudança, de desenvolvimento, de evolução na organização da vida
subjetiva", Ghiselin (1952)
"criatividade representa a
emergência de algo único e original" (Anderson, 1965);
"criatividade é o processo
de tornar-se sensível a problemas, deficiências, lacunas no conhecimento,
desarmonia; identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando hipóteses a
respeito das deficiências; testar e retestar estas hipóteses; e, finalmente,
comunicar os resultados" (Torrance, 1965);
"criatividade é o processo
que resulta em um produto novo, que é aceito como útil, e/ou satisfatório por
um número significativo de pessoas em algum ponto no tempo" (Stein, 1974);
Segundo Flieger , "manipulamos
símbolos ou objetos externos para produzir um evento incomum para nós ou para
nosso meio". (Flieger, 1978);
"um produto ou resposta
serão julgados como criativos na extensão em que a) são novos e apropriados,
úteis ou de valor para uma tarefa e b) a tarefa é heurística e não
algorística" (Amabile, 1983).
A figura abaixo ilustra uma
situação metafórica, onde a criatividade do homem se faz presente duas vezes: a
primeira, pela invenção da lâmpada, pelo proeminente inventor Thomas Edison,
que registrou 2.332 patentes; a segunda, pela própria invenção que simulando a
criatividade da mente humana, está prestes a acender a si própria.
Criatividade: conteúdo e formas:
A criatividade teve diferentes
significados e conotações ao longo do tempo. Já foi considerada dom divino na
idade média, mas também associada a loucura, onde as manifestações criativas
eram tidas como um atos impensados, que serviriam de compensação aos desajustes
e conflitos inconscientes da pessoa.
Pode-se classificá-la segundo o
lugar de origem e a forma como se manifesta. Um exemplo de classificação por
lugar de origem é a seguinte:
Criatividade individual: é a
forma criativa expressa por um indivíduo;
Criatividade coletiva ou de grupo
(equipe): forma criativa expressa por uma organização, equipe ou grupo. Surge
geralmente da interação de um grupo com o seu exterior ou de interações dentro
do próprio grupo e tem como objetivo principal otimizar ou criar produtos,
serviços e processos.
Nas organizações modernas a
"criatividade em equipe" é o caminho mais curto e mais rápido para
modernização e atualização de seus diversos métodos de gestão e de produção.
Quando transformada em produtos e serviços, isto é, quando a criatividade é
posta em prática, podemos gerar as inovações. Larry Hirst (IBM) afirmou que a
"Invenção é a transformação de dinheiro em ideias, inovação é a
transformação de ideias em dinheiro". Inovação tem pois este carácter de
concretização, que só assim poderá gerar criação de valor, comum às organizações
com foco nos clientes. Para ele, o conceito de criatividade é aplicável no
contexto pessoal, fora do contexto empresarial, onde o foco é a inovação.
A "Física" da
Criatividade:
Pode-se definir forças de ação e
reação para a criatividade, como uma metáfora que referencia a terceira lei de
Newton:
Forças de ação a favor da
criatividade – motivação, espírito empreendedor, coragem, talento e vontade de
criar algo novo são forças que atuam em prol da criatividade. Iniciativas que
incentivam e elogiam as ações, que valorizam as iniciativas, também atuam como
forças capacitadoras, isto é, forças de ação;
Forças de reação contra a
criatividade – barreiras emocionais, impedem as pessoas de usarem plenamente
sua imaginação, especialmente, o medo de errar e parecer ridículo. Outra
barreira natural é a necessidade de dedicação, de tornar-se expert, pois
através da domínio da técnica é que as pessoas podem superar o domínio da arte
e criar. O medo do novo, a manutenção de paradigmas e status quo são outras
forças de reação.
Para os autores Duailibi e
Simonsen Jr., criatividade e inovação são indissociáveis, mas não sinônimos: a
primeira, é a faísca; a segunda, a mistura gasosa que perdura e se realiza no
tempo. A primeira, a descoberta e inspiração; a segunda, o trabalho e a
transpiração.
O potencial criativo pode ser
visto como um conjunto de pessoas e contexto de grupo favoráveis a geração de
ideias incentivados e motivados para solução de problemas:
aprimorar conhecimentos e
habilidades que permitam expandir o dom natural da pessoa ou do grupo;
a criatividade pode ser vista
como um processo em formação que depende de um contexto de grupo para se
transformar em inovação.
O processo criativo:
Os autores definem fases para o
desenvolvimento do processo criativo, a saber:
Percepção do problema. É o
primeiro passo no processo criativo e envolve o "sentir" do problema
ou desafio. Normalmente, começa no indivíduo;
Teorização do problema. Depois da
observação do problema, o próximo passo é convertê-lo em um modelo mental
(Senge, 1990) ou teórico;
Considerar a solução. Este passo
caracteriza-se geralmente pela súbita criação da solução; é o impacto do tipo
"achei!". Muitos destes momentos surgem após o estudo exaustivo do
problema;
Produzir a solução. A última fase
é converter a ideia mental em ideia prática, um modelo, por exemplo. É
considerada a parte mais difícil, de pouca inspiração, mas muito trabalho,
muita inspiração;
Produzir a solução em equipe.
Fase comum que ocorre nas empresas e organizações quando precisam, tanto
diagnosticar ou superar um problema quanto otimizar ou inovar produtos,
serviços e processos. Ancoram-se, para tal dinâmica, na conhecida técnica de
tempestade de ideias (brainstorm).
Conclusões:
A importância da criatividade
está no seu poder de ação, de uma pessoa para grupos e vice-versa. Os
benefícios para a coletividade são incalculáveis: invenções, inovações,
melhoria de vida e uma série de outras soluções que evoluíram ao longo dos
tempos. Organizações inovadoras criam departamentos de Pesquisa e
Desenvolvimento como forma de disponibilizar recursos para espaços onde o
contexto seja aberto a criação. O próprio entendimento do homem em relação ao
conceito, ao que é criatividade, evoluiu de uma ideia maluca para a solução do
mundo nos tempos modernos. Ainda bem que seja assim!
Referências:
MASI, Domênico de. Criatividade e
Grupos Criativos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
SENGE, Peter. A quinta
disciplina. Rio de Janeiro: Campus, 1990.
WIKIPEDIA, pt.wikipedia.org/wiki/Criatividade,
acesso em 08-03-2012.